segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Crónica da Semana

O paradigma da loiça.
Ensaio teórico-filosófico-físico-químico-biológico sobre a problemática da deslocação de loiça.

A discussão estoirou, com toda a sua fúria a ocupar os noticiários nacionais e internacionais. Notícia de abertura no Die Welt, no The Times, no New York Times e, pasme-se, no Correio da Manhã.
Devem ou não os alunos, que comem no bar da escola Secundária Dr. Augusto César da Silva Ferreira em Rio Maior, levantar a loiça da mesa e entregá-la no balcão depois de comer? E, se devem, porquê? E, já agora, como é que se convencem os alunos a fazer isso?

Esta questão foi-me colocada  e, perante tão relevante, denso e quase insolúvel conjunto de questões recolhi-me em aturada reflexão filosófica. Como no fundo (mesmo lá muito no fundo) sou um cartesiano, decidi dividir este problema em três partes. Primeira parte: Devem os alunos devolver a loiça ao balcão do bar depois de a utilizar? à primeira vista tudo parece indicar que sim. Imaginam o que será, no meio de uma animada conversa tentarmos, por engano, beber do copo de galão sujo com bâton sabor amora que foi deixado pela colega de turma que odiamos desde o 7º ano? Um horror! Mas, como eu sei que é preciso melhores razões, aqui vão:

Pergunta: porque é que quando vamos comer a um Mc Donald's, depois da refeição, nos levantamos para pôr o lixo e o tabuleiro no sítio e isso é considerado um ato modernaço à americana, mesmo que a isso não sejamos obrigados? Já estou a ouvir a vossa resposta.

"Porque estamos a comer um big Mac e uma cola e batatas fritas e, para não perder a pose e o estilo fazemos o que todos os outros fazem, senão ficamos mal vistos e toda a gente ficava a olhar para nós tipo "olha, é mesmo "tuga"!"

 Certo... compreendo. E então porque é que se estivéssemos no IKEA, de certeza que nos levantaríamos, depois de comer, para arrumar o tabuleiro no carrinho? Porque, dir-me-ão,  é uma loja sueca, com muita tralha feita na China (mas cheia de estilo) e, para não perder a pose e o estilo, fazemos o que todos os outros fazem, senão ficamos mal vistos e toda a gente fica a olhar para nós tipo "olha é mesmo "tuga"!"

Porque é que quando estamos num centro comercial, depois de comer na área de refeições, geralmente deixamos o tabuleiro na mesa?

Porque, é claro, sabemos que alguém "a senhora do carrinho" vem limpar tudo imediata, rápida e imaculadamente. Ou seja, não arrumamos o tabuleiro porque... NÃO NOS PEDEM! Basicamente sabemos que "alguém" vem e limpa. E como ninguém nos pede, não nos sentimos no dever de o fazer.

É então que passamos a ser"tugas", sem medo nenhum de o ser, porque todos os outros "tugas" estão a deixar os tabuleiros para a "senhora do carrinho" vir limpar e porque, se não formos "tugas" e arrumarmos o tabuleiro, em vez de sermos suecos ou americanos somos considerados totós. E nem mesmo um "tuga" quer ser totó. Por isso, como quem está habituado à criadagem, deixamos tudo para "alguém" limpar.

Mas não estaremos nós a ajudar a "senhora do carrinho" a ter emprego se não arrumarmos as coisas? Se virmos as coisas por esse prisma, estamos!

Por exemplo, se eu pregar um par de estalos a um tipo justifico: O emprego do polícia que toma conta da ocorrência, do paramédico que o leva ao hospital, do médico que o trata, do funcionário que escreve o processo, do juiz que o julga e dos advogados que o assistem. Olha só o emprego que um bom par de estalos cria! Mas, mesmo criando estes postos de trabalho todos devo desatar à estalada aos outros? Fica a questão... Não quero ser impositivo.

Ora, o argumento da criação de emprego não pega. Até porque as funcionárias do bar estão lá para nos servir, mas nenhuma delas está lá apenas PARA LIMPAR! Por isso é que nos é PEDIDO que devolvamos a loiça no balcão. e analisarmos o conteúdo do nosso estômago e os vestígios deixados na chávena qualquer investigador do CSI veria que "coincidem" e ninguém quer ter um investigador a analisar o conteúdo do estômago pois não?.

Então vamos lá a ver se as nossas perguntas estão já respondidas:

1ª - Devem ou não os alunos, que comem no bar da escola Secundária Dr. Augusto César da Silva Ferreira em Rio Maior, levantar a loiça da mesa e entregá-la no balcão depois de comer? SIM, DEVEM! Esta foi fácil.
2ª - E, se devem, porquê? PORQUE LHES PEDEM!
3ª -  E, já agora, como é que se convencemos os alunos a fazer isso? É simples! Basta que haja alguns alunos que se queiram comportar à sueca, ou à americana ou como gente limpa, civilizada e simpática para que cada vez mais pessoas queiram ser isso de tal modo que, ao fim de algum tempo, quem não o fizer se sinta, pior que tuga, um verdadeiro e refinadíssimo totó. Mas o verdadeiro motivo pelo qual devemos devolver a loiça no bar é este. PORQUE NOS PEDEM PARA O FAZER. E, não respeitar um pedido, é muito feio.

Sem comentários:

Enviar um comentário